sábado, 11 de maio de 2013

Educação e Cibrecultura.

          Há alguns anos fiz uma disciplina na Uerj sobre educação muito interessante. O nome da eletiva era Educação e Cibercultura, e tratava sobre a nova realidade da sala de aula, na qual encontramos uma clientela, conectada à web, aos aparelhos eletrônicos, aos celulares e computadores cada vez mais modernos. Sendo assim, o modelo tradicional de escola, o qual já se encontra ultrapassado a décadas, se encontra cada vez mais incompatível com a nova realidade e exigências do corpo discente.          

        Essa incompatibilidade é um dos motivos que dificultam o diálogo entre professor e aluno em sala de aula. Além  dos fatores externos que nós professores conhecemos muito bem, como a falta de estrutura familiar, pais ausentes, crianças e adolescentes sem parâmetros, falta de apoio da direção e equipe pedagógica da escola e outros fatos que influenciam nas relações dentro e fora da sala de aula.          

         Enfim, resolvi compartilhar o meu trabalho realizado nessa matéria, e deixo o link com os trabalhos dos demais colegas que  cursaram comigo. Também tem no corpo do texto uma pequena bibliografia sobre o tema, pra quem tiver interesse em se aprofundar no assunto. A faculdade de pedagogia da Uerj oferece cursos de pós graduação lato sensu e stricto senso sobre o assunto.





UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
http://cibercultura-mt.blogspot.com.br/


Primeira avaliação presencial da disciplina Educação e Cibercultura
Faculdade de Educação
Profº: Marco Silva

Questão 1:
Caracterize os três princípios da cibercultura, segundo Lemos & Lévy.

Segundo Lemos e Lévya a cibercultura trás uma nova configuração social, cultural, comunicacional e política. Tal configuração vem acompanhada de três princípios básicos da cibercultura, que são: a liberação da emissão, conexão generalizada e reconfiguração social. (Lemos e Lévy, 2010. p.45)
A liberação da emissão é a “emergência de vozes e discursos anteriormente reprimidos na edição da informação pelos mass media[1], ou seja,   agora não estamos mais limitados a condição de espectador-receptor e passamos a ocupar um espaço de  emissor além de receptor através da liberação da voz. Trata-se da liberação da emissão para os que antes só receptavam informação através das mídias de massa sem a possibilidade de interação, discussão e/ou interceptação pelo, até então, expectador dessas mídias como TV, jornal, rádio entre outros. É a libertação do pólo de emissão de informação que agora pode partir de qualquer um que esteja conectado a essa liberação da comunicação através do ciberespaço, comunicação esta que não mais pertence somente às massas homogenias de comunicação, como ocorria até então, fazendo com que a comunicação seja de todos e para todos, onde o indivíduo pode ocupar duas posições: a de emissor de informação e também a de receptor de informação de outrem. 
          A conexão generalizada é o princípio de que tudo está na rede, tudo está conectado, através de uma conectividade transversal e planetária em que tudo se comunica por meio desta rede: pessoas, cidades, celulares, máquinas etc. Os mais diversos objetos passam a se comunicar através da rede, através da conexão à internet.[2] Esta conectividade permite o aumento e o compartilhamento da produção das mais diversas informações.
A reconfiguração social, cultural, econômica e política é a reconfiguração das práticas, modalidades midiáticas, espaços, sem substituir seus respectivos antecedentes. Essa reconfiguração vai além da remediação de um meio sobre o outro, pois é a transformação de estruturas socias, instituições e práticas comunicacionais.[3]


Questão 5:
Caracterize a nova paisagem midiática definida por lemos e Lévy Como “pós- massiva”.
           A modificação que ocorre na comunicação está ligada a processos midiáticos que não se enquadram mais na denominação de “mídias de massa”. O que era fluxo massivo nas mídias como jornal, rádio e televisão, agora desempenha o que os autores Levý e Lemos denominam como “função pós-massiva”. Esta função é personalizável e interativa, estimulando além do consumo, a produção e a distribuição de informação através das “novas mídias” como Internet, telefone celular, microcomputadores etc, desempenhando uma função descentralizadora, uma vez que são abertas, colaborativas, interativas, dentre outras características tidas como “pós-massivas”. Esta reconfiguração da indústria cultural de massa realizada pela função “pós-massiva” causa forte impacto político e acarreta mudanças na paisagem comunicacional, conforme explicita os autores.

“Há e persistirá o modelo “informativo” “um-todos” das mídias de massa, mas crescerá o modelo “conversacional” “todos-todos” das mídias digitais e redes telemáticas. Teremos cada vez mais liberdade de escolha no consumo da informação e de estabelecimento da comunicação bidirecional, cooperativa e planetária. Ferramentas como blogs, wikis, podcasts, microblogs, softwares sociais, softwares livres, redes P2P, SMS, entre outros instrumentos de comunicação, informação, mobilização e deliberação política, mostram claramente essas funções em marcha”   (LEMOS, A. e LÉVY, P. O Futuro da Internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária, p. 47-48)

            Essas novas tecnologias de comunicação e informação irão propiciar agregação social, de vínculo comunicacional e de recombinações de informações as mais diversas sobre formatos variados, podendo ser textos, imagens fixas e animadas e sons. A cibercultura instaura uma estrutura midiática ímpar (na história da humanidade, na qual, pela primeira vez, qualquer indivíduo pode produzir e publicar informação em tempo real, sob diversos formatos e modulações, adicionar e colaborar em rede com outros, reconfigurando a indústria cultural Trata-se de crescente troca e processos de compartilhamento de diversos elementos da cultura a partir das possibilidades abertas pelas tecnologias eletrônico-digitais e pelas redes telemáticas contemporâneas. Isso tudo ocorre graças a liberação do pólo de produção,  a liberação da voz que faz parte da cultura pós- massiva, com cibrcidadãos produzindo e fazendo circular cada vez mais informações. O que vemos hoje são inúmeros fenômenos sociais em que o antigo “receptor” passa a produzir e emitir sua própria informação, de forma livre e planetária, cujo sintoma é às vezes confundido com “excesso” de informação. As práticas sociocomunicacionais da internet estão aí para mostrar que as pessoas estão produzindo vídeos, fotos, música, escrevendo em blogs, criando fóruns e comunidades, desenvolvendo softwares e ferramentas da Web 2.0, trocando música etc. Essas práticas refletem a potência represada pelos meios massivos de comunicação que sempre controlaram o pólo da emissão. Editoras, empresas de televisão, jornais e revistas, indústrias da música e do filme controlam a emissão na já tão estudada cultura da comunicação de massa.[4]


Questão 7:
Distinguir “web 1.0” e “web 2.0”. Apresente exemplos comentados.
A principal diferença entre web 1.0 e web 2.0 é a interatividade do usuário com o meio (a própria web). Isso significa ver a web não como mais um programa, e sim como algo sujeito a alterações, um ambiente onde o usuário não acessa dados simplesmente, mas pode criar e editar conteúdos.[5]
A web 1.0 foi a primeira geração de internet comercial, com grande quantidade de informações disponíveis, mas seu conteúdo era pouco interativo. Era apenas mais um espaço de leitura em que o usuário ficava no papel de mero espectador da ação que se passava na página que ele visitava e não tinha autorização para alterar seu conteúdo, como por exemplo, o site www.terra.com.br, pois não é interativo e seus aplicativos são fechados, mesmo com a existência de hiperlinks. Outros exemplos de site web 1.0 são: www.marshallbrain.com e www.mirosoares.com.[6]
A web 2.0 é a chamada segunda geração da internet, fortemente marcada pela interatividade, pelos conteúdos gerados por usuários e pela personalização de serviços. Alguns exemplos de sites típicos dessa geração são os blogs (e as variações fotologs e videologs), as redes sociais e os sites de compartilhamento de arquivos.  Na web 2.0 ocorre  a mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva. Permite que os usuários sejam mais que meros espectadores: eles são parte do espetáculo. Exemplo: www.wikipédia.com que permite que seus usuários efetuem mudanças. Na web 2.0 há a tendência que reforça o conceito de troca de informações e colaboração dos internautas com sites e serviços virtuais, a sua essência é permitir que os usuários sejam mais que meros espectadores. Na web 2.0 os softwares funcionam pela Internet, não somente instalados no computador local, de forma que vários programas podem se integrar formando uma grande plataforma e os os programas são abertos, ou seja, uma parte do programa pode ser utilizado por qualquer pessoa para se fazer outro programa. Outros exemplos de site web 2.0: www.last.fm,www.flickr.com, www.youtube.com e www.myspace.com.
Interatividade do usuário com a Web 2.0



Questão 8:
O que é “inteligência coletiva” e como Lemos e Lévy situam esse conceito na cibercultura?
As novas funções pós-massivas em desenvolvimento com a computação social da Web 2.0 estão diretamente ligadas a forma emergente da cultura, na qual  o aperfeiçoamento da inteligência coletiva é o produto e o sentido da evolução cultural baseada na liberdade.[7] Embora com pouco tempo de propagação da computação social, fica evidente que podemos esperar uma melhoria crescente e evolutiva do conteúdo informacional gerado na cultura do ciberespaço[8], através do uso de redes sociais, blogs, etc, uma vez que as informações que estão no ciberespaço vem adquirindo um caráter público e global. Sendo assim, a inteligência coletiva
“É uma inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em mobilização efetiva das competências. Acrescentemos à nossa definição este complemento indispensável: a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas, senão o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas.Uma inteligência distribuída por toda parte: tal é o nosso axioma inicial. Ninguém sabe tudo, todos sabem alguma coisa, todo o saber está na humanidade.” (LÉVY, P.In.:A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço)[9]
Sendo assim, a inteligência coletiva é um saber construído por vários indivíduos, com um tipo de informação que deve ser aberta a mudanças mediante debates entre os indivíduos dos ciberespaços, pelos ditos cibercidadãos que devem descobrir a pluralidade de proposições existentes na rede, possibilitando o conhecimento e a cibercultura para desenvolver essas descobertas de forma interativa e democrática.  Nos tempos atuais, um grande exemplo que temos de cibercultura interativa e com desenvolvimento da inteligência coletiva é a Wikipedia, na qual a  co-produção e a liberação da fala dos seus usuários é de grande importância para o engrandecimento dos seus diversos conteúdos, tornando-se uma espécie de enciclopédia livre da web, inclusive com livre editoração por seus leitores.






Referência bibliográfica:
LEMOS, André e LÉVY, Pierre. O Futuroda Internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus, 2010.
- LÉVY, P.In.:A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço
-http://abciber.org/publicacoes/livro1/textos/cibercultura-como-territorio-recombinante1




[1] LEMOS, André e LÉVY, Pierre. O Futuroda Internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus, 2010. p. 45.
[2] Ibdem, p. 46.
[3] Ibdem, p. 46.
[4] Ver http://abciber.org/publicacoes/livro1/textos/cibercultura-como-territorio-recombinante1/
[7] LEMOS, A. e LÉVY, P. Op. cit. p. 38.
[8] Ibdem, p. 86.

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